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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

trecho da peça "Catalepsia" - encenada nas obras do teatro municipal em 2005

Decreto N.05:
 “Fica terminantemente proibido por ordem do senhor alcaide municipal que se faça anúncio de noticias, idéias, filmes, novelas, canções, coreografia, fofoca, diz que diz, enfim; toda e qualquer propaganda que faça alusão ou tragam em seu bojo o negativismo. 
Apêndice ao Decreto Nº 05; este decreto afiança que tudo está na maior normalidade. Garante que o mundo não vai acabar numa explosão de sal. Afirma convicto que as nossas mulheres ainda nos amam e continuarão fieis! A saúde financeira da cidade é excelente! Temos saldo, temos crédito! As ruas estão limpas! O ar está puro, a vegetação verde e os rios azuis. Todo funcionário tem o seu crachá de identificação e não bastasse isso, ainda tem um uniforme cinza. Temos um carimbo reservado para cada coisa e intricados procedimentos para cada solicitação. A vida permanecerá burocrática e segura. Para os idôneos fica apalavrado e documentado em três vias, com firma reconhecida em cartório, que sempre haverá feira e Missa no sábado, bem como, a trepadinha de toda sexta, fim de mês. Estamos todos saudáveis e felizes! Nossas consciências estão alvas como noivas em maio. E estamos todos salvos perante Deus, desde que cada um faça o seu dever. Este decreto, também acaba com a pobreza e a miséria. E para quem não cumprir a presente lei, resta a cadeia, tortura, julgamento e provável fuzilamento em local incerto, e após sua morte, o governo se reserva o direito de confiscar os bens do rebelde infeliz e cobrar da família o custo da bala atirada.
 Cumpra-se. 

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