Com portão derrubado, avançamos.
O que vimos a seguir nos deixou bestificados; a cidade alta era imensa, brilhante, barulhenta, super ativa! Era um formigueiro, vespeiro, colméia.
Suas artérias se perdiam de vista e parecia não terem fim. Há que distâncias nos levariam aquelas vias?
Passado a surpresa começamos a invasão.
Caímos logo na maior das avenidas e sentimos que milhares de olhos pousavam sobre nós. A gente destoava dos nativos. Corríamos brandindo nossas foices e soltando gritos de guerra e com as caras pintadas para o combate.
Não dava para disfarçar o selvagem que carregávamos. Não dava para esconder o caboré. Nós não passávamos de uns caborés!
Os habitantes locais fugiam assustados, se escondiam, buscavam refúgios em suas casas, em suas grades de segurança.
O que nos chamou atenção nos “locais” é que estes não se pareciam conosco. Eram muito artificiais. Percebia-se isso na cor dos cabelos, a pele maquiada, plastificada, os vários implantes os tornavam mais cibernéticos e distantes do que convencionamos a chamar de humano.
Provavelmente não comiam carne, quem sabe se ainda tinham sangue quente, quem sabe se respiravam oxigênio, se soltavam gases. Talvez, não pudessem mais chorar, nem se comoverem com o sofrimento alheio, porque talvez, não enxergassem ao outro. Difícil acreditar que fossem capazes de manifestar amor, ou mesmo ódio. Duvidamos sinceramente que aquelas tristes criaturas tivessem em sua programação um espaço para um porre, um escândalo no bar ou uma trepada não mecânica. E embora cada um se vestisse de um jeito, eles pareciam uniformizados, um exército marchando em linha e olhando sempre para um lado só.
Diante dessa constatação começamos a duvidar se o “diamante” seria um bom lugar para se viver.
E foi quando fomos atacados pelos guardas metade homens, metade cães, a princípio ficamos um pouco atemorizados porque os bichos eram grandes e pareciam bem ferozes. Mas já tínhamos chegado longe demais e voltar não era uma alternativa válida.
Naquele momento éramos uma força da natureza que tinha acabado de ser libertada. Estouramos a represa e a nossa intenção se manifestava no desejo de alargar as margens do rio e levar junto com a correnteza tudo o que houvesse pela frente. Juntando as matérias numa coisa só, numa energia só.