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quarta-feira, 2 de março de 2011

Trecho do livro Por apenas um dia de glória"

Com portão derrubado, avançamos. 
O que vimos a seguir nos deixou bestificados; a cidade alta era imensa, brilhante, barulhenta, super ativa! Era um formigueiro, vespeiro, colméia. 
Suas artérias se perdiam de vista e parecia não terem fim. Há que distâncias nos levariam aquelas vias?
Passado a surpresa começamos a invasão. 
Caímos logo na maior das avenidas e sentimos que milhares de olhos pousavam sobre nós. A gente destoava dos nativos. Corríamos brandindo nossas foices e soltando gritos de guerra e com as caras pintadas para o combate. 
Não dava para disfarçar o selvagem que carregávamos. Não dava para esconder o caboré. Nós não passávamos de uns caborés!
Os habitantes locais fugiam assustados, se escondiam, buscavam refúgios em suas casas, em suas grades de segurança.
O que nos chamou atenção nos “locais” é que estes não se pareciam conosco. Eram muito artificiais. Percebia-se isso na cor dos cabelos, a pele maquiada, plastificada, os vários implantes os tornavam mais cibernéticos e distantes do que convencionamos a chamar de humano.
Provavelmente não comiam carne, quem sabe se ainda tinham sangue quente, quem sabe se respiravam oxigênio, se soltavam gases. Talvez, não pudessem mais chorar, nem se comoverem com o sofrimento alheio, porque talvez, não enxergassem ao outro. Difícil acreditar que fossem capazes de manifestar amor, ou mesmo ódio. Duvidamos sinceramente que aquelas tristes criaturas tivessem em sua programação um espaço para um porre, um escândalo no bar ou uma trepada não mecânica. E embora cada um se vestisse de um jeito, eles pareciam uniformizados, um exército marchando em linha e olhando sempre para um lado só.
Diante dessa constatação começamos a duvidar se o “diamante” seria um bom lugar para se viver.
E foi quando fomos atacados pelos guardas metade homens, metade cães, a princípio ficamos um pouco atemorizados porque os bichos eram grandes e pareciam bem ferozes. Mas já tínhamos chegado longe demais e voltar não era uma alternativa válida.
Naquele momento éramos uma força da natureza que tinha acabado de ser libertada. Estouramos a represa e a nossa intenção se manifestava no desejo de alargar as margens do rio e levar junto com a correnteza tudo o que houvesse pela frente. Juntando as matérias numa coisa só, numa energia só. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Jujuba

Diante de você
Eu queria ser gay
Para não me apaixonar
Para não mais sofrer
As vezes que eu errei, foi tentando acertar
Jujuba
Mas, você nem quis me ouvir
Não me deixou falar
A garganta tava seca
E um trago eu fui tomar
Eu tava com o Amaro
E ninguém pulou a cerca
Tudo o que falaram
É só difamação, mentira e confusão
São esses paus nos cus, tremendos urubus
Que querem e insistem em nos separar.
Jujujujuba. jujuba! Jujuba!
Eu tenho saudade da sua lasanha
Eu tinha água, sombra e rede.
Massagem e coisa e tal
Na cama tinha a manha
Subia as paredes.
Coisa fora do normal.
Ela parecia lagartixa profissional.
Jujujujuba. jujuba! Jujuba!
Eu pego o caminhão
Vou para Volta Redonda
Vou tentar esquecer
Jujuba meu tesão!
Meu pobre coração!
Coitado só se arromba
Está todo quebrado
Remendado e colado
Não bate só apanha
Menina deixa de manha
Minha cobra quer descer ao play
Para brincar com a tua aranha.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A inércia e o caos



Vou me esquivando
Das balas vespas,
Que passam zunindo
Tentam me acertar.
Estou implorando
Vê se me erra
Dá-me um tempo
Para respirar
Só tem cobranças no meu e-mail
Tem mais cachorro que calcanhar
Só mais motivos pro meu saco cheio
Se eu explodir, vocês não vão gostar
Equilibrando-me
Vou derrapando
Sem soltar o osso
Sem pedir reforço
Quase surtando
Mais uma braçada
Desculpas manjadas
Eu vou usando

Trocando o corpo pela alma
A cigana mentiu sobre o meu Karma
Mas ninguém sai da vida sem morrer
E eu sempre soube o que tinha a perder.
Então no final o que vida me traz
É a justa medida de sal. Sangue e pá de cal. A inércia e o caos.
E no final o que vida cobra
É o suor do meu pão. É me manter são. É intentar comunhão.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O universo conspira a seu favor?

Trecho do Livro "A vida nao tem segredos" Ou a receita do macarrão instantâneo.

         Já foi dito, escrito e propagado que o Universo conspira a favor dos sonhos das pessoas. Não é de todo uma mentira, nem também é uma verdade absoluta. O Universo apenas favorecerá aquele que o contrate para esse fim. Mas advirto que os honorários são caros e os resultados nem sempre são os que se esperam. E mais uma coisa, a fila de espera em seu escritório é enorme.
         Vou lhe contar a minha própria experiência. Funciona assim, ele te recebe e a coisa toda é como um papo entre o doido e o psicólogo. Você é quem fala. Conta sua vida inteira, revela suas angustias mais profundas, confessa seus fracassos mais doídos, enquanto Ele fuma o seu cachimbo, que, aliás, exala um cheiro horrível! Ele não se mostra muito expansivo. Então, essa teoria que diz que o Universo está se expandindo é, na verdade, uma grande lorota. O que eu pude observar foram vários buracos negros no terno do Cara! Mas, o que incomoda mesmo é o fato Dele não se pronunciar em nenhum momento, não diz uma palavra sequer, o máximo que faz é tamborilar com os dedos no braço da cadeira e soltar um pigarro irritante de quando em quando. Naquele silêncio espacial, Ele balança a cabeça, fingindo atenção, e envolvido pela atuação Dele, você acaba por responder suas próprias perguntas. Para mim o resultado foi muito desagradável. Deu-me uma impaciência tremenda! Eu cheguei a achar que ele não me escutava. Talvez o Universo seja surdo. Um outro cliente me explicou o seguinte: “O Universo não é surdo, coisa nenhuma! Nos é que falamos baixo demais!” Tem lógica! Se você, minúsculo grão de poeira estelar, não consegue ser ouvido em sua própria casa ou meio social como espera ser ouvido pelo poderoso Universo? Mais continuou o incômodo, eu não tinha ido ali para ouvir minha própria voz ecoando! Queria respostas. Desejava pelo menos uma meia dúzia de palavra de conforto. E só o que consegui foi ficar impregnado com o mau cheiro daquele fumo barato. Mas, talvez o amigo leitor tenha maior sorte que eu.
         Mas a verdade em que acredito, meu amigo é que estamos sós. Estamos por nossa conta. E os recursos que temos a mão são bem limitados.
         Deus sujou suas mãos sagradas no barro, soprou nos a vida e depois nos enrolou com aquela história de livre arbítrio.
Como tocar a existência sem ao menos um manual de instruções? Alguns garantem que esse manual existe, mas com certeza está escrito em javanês.
         Mas façamos justiça a Deus e admitimos que Ele também nos presenteou com um dom maravilhoso; a esperança.
         A esperança que alguns chama de fé. Essa força interior que nos move e nos faz acordar todos os dias.